O personagem principal do livro é Rodion Românovitch Raskólnikov,
um estudante que cria uma tese: Os indivíduos se dividem em duas categorias: os
ordinários e os extraordinários. Os ordinários são pessoas corretas, que vivem
na obediência e não podem transgredir a lei. Já os extraordinários são os que podem
tudo, podem cometer crimes, violar leis e ficar impunes pela única razão de
serem extraordinários. Segundo Raskónikov os seres extraordinários tomam o poder
à força e dominam os seres ordinários.
Em nome de uma ideia que talvez venha construir benefícios
para toda a humanidade, os seres extraordinários criam novas leis para violarem
as antigas leis que até então vinham sendo seguidas e obedecidas rigorosamente
pela sociedade e transmitida de geração em geração.
Todas as pessoas que se elevam acima da média Raskólnikov
considera um ser extraordinário. Mesmo que sejam criminosas, se essas pessoas
conseguem criar algo novo, ideias novas, palavras novas, etc., essa pessoa pode
ser considerada extraordinária.
Impressionado por Napoleão ter derramado tanto sangue e mesmo
assim ter sido aclamado como herói Raskólnikov se comporta como uma pessoa extraordinária e mata duas pessoas. A primeira ele planejou matar, a outra foi apenas "queima de arquivo", ela presenciou o crime e por isso foi morta.
Por alguma razão alguém assume a culpa pelo crime e
Raskólnikov poderia sair ileso e sem nenhuma culpa se não fosse pela sua
consciência.
Esse jovem estudante e inteligente almeja poder para mudar o
mundo de miséria ao seu redor e em nome dessa ideia se coloca acima da lei e
tenta de todas as formas trabalhar a culpa, pois um ser extraordinário não
sente culpa, apenas faz o que tem que ser feito porque sua ideia é superior a
qualquer lei.
A consciência de Raskólnikov o castiga, não pelo
arrependimento, mas pela tentativa de convencer a si mesmo que não cometeu
crime nenhum.
Um homem extraordinário deve fazer jus ao sinônimo de “mau” e
nunca entrar em conflito com sua índole. Deve estar acima de tudo e não sentir
nenhuma culpa por isso. Raskólnikov descobriu que ele próprio não era um ser
extraordinário quando dominado pela culpa confessa seu crime mesmo sabendo que
poderia ficar impune a ele.
No trajeto de sua história aparecem diversos personagens com
índoles questionáveis, outros de boa índole em histórias que se cruzam e
conduzem o leitor a várias reflexões sobre o comportamento humano, sobre
julgamentos antecipados, etc.
O que me fez gostar muito do livro foi a maneira como Dostoievski
me conduziu a reflexão sobre punição, por exemplo: A personagem Sonia Siemionova
se torna prostituta para sustentar sua família. Seu pai era um bêbado e por
causa do vício não conseguia sustentar a família, sua madrasta era tísica e
seus irmãos pequenos precisavam comer. Em sua cabeça ela tinha um motivo justo
e por isso mantinha sua pureza e integridade de coração. Ela nunca cometeu
nenhum crime, mas a sociedade não lhe ajudou, lhe julgou e a vida lhe puniu. Por outro lado
Pyotr Petrovich é um homem egoísta, que
resolve se casar com uma menina honesta, sem dote, e que tivesse tido
privações. Na opinião dele mulheres assim não têm o direito de desejar que o
homem deva obrigações à esposa; antes é conveniente que ela veja no marido um
benfeitor. Com toda essa arrogância Pyotr Petrovich é respeitado pela
sociedade, porque tem dinheiro e uma boa posição social.
Raskólnikov inclusive coloca esse pensamento em
pauta quando pergunta para Sónia qual dos dois seres humanos mereciam morrer Pyotr
Petrovich ou Catierina Ivánovna (sua madrasta)?
Catierina Ivánovna era apenas uma mulher tísica,
que já fora da alta sociedade, mas perdera seu pai e seu primeiro marido e
casara com um bêbado e agora se tornara uma mulher desventurada e miserável. Enquanto
que Pyotr Petrovich era um canalha arrogante, obsessivo e porco chauvinista.
Diante desse questionamento me peguei a pensar como
punimos as pessoas e as julgamos precipitadamente por um conceito preconcebido
que a “sociedade”, seja ela religiosa ou social criou.
A cada livro que leio me encanto mais com a ideia de
Cristo de amar as pessoas como elas são e deixar que Ele e somente Ele mude o que
precisar ser mudado.
Tô cansada dessa mentalidade de vitrine onde o que
conta é o exterior.
Tô cansada desse cristianismo lustra móveis que
mente para fazer as pessoas serem melhores do que realmente são.
Como disse Glênio Fonseca Paranaguá: “Nada pode ser
mais absurdo do que ver o indigno tentando vestir-se de dignidade para poder
ser aceito pela graça de Deus”.
Não posso contar o final do livro Crime e Castigo,
mas posso dizer o que aprendi com o final: “só o arrependimento genuíno, que
geralmente acontece quando encontramos o amor que liberta, pode nos salvar de nós
mesmos, dos nossos demônios interiores, da nossa roupagem camuflada de
bondade e piedade inexistente”. Há quem diga encontrar esse amor em coisas,
pessoas, religião, etc., eu porém, só encontrei esse amor em Cristo.
Resumindo: é um livro que vale a pena ser lido. Abro um Parêntese apenas para as pessoas que estão começando agora no mundo da leitura: leiam outros livros antes de lerem qualquer livro de Dostoievski, caso contrário a leitura será cansativa.